Chegados ao ultimo dia, quase a entrar na folia da passagem do ano, é momento de arranjar motivo para os excessos liquidos e sólidos. Daí que exagera-se porque a sessão correu mal e mais vale esquecer a exagerar ou a sessão correu bem e exagera-se na mesma mas por motivos mais alegres.
Da sessão de hoje, o Paulo Ferreira e o Henrique tiveram direito a uma espécie nova e por isso existem razões para a comemoração. Assim o texto fica por aqui, porque a comemoração já vai com um bom par de horas. Boas anilhagens em 2017. Teresa: O bolo inglês estava mesmo muito bom. Henrique: o esforço do formando do ano é para continuar.
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Se a montagem do material de captura é feita sempre de estômago vazio, o tempo de espera entre a montagem e a primeira visita às redes tem de ser ocupada de alguma maneira. Como não vale a pena estarmos a olhar uns para os outros, porque não somos lindos, se o fossemos teríamos formandas e não formandos, mais vale tomar um bom pequeno almoço e dar dois dedos de conversa. O de hoje não foge ao habitual, se bem que os ultimos formandos que tenho já vêm compostos de casa e ficam a olhar para mim. Pois que olhem. Já o Rui é feito de outra loiça e ambos sabemos ao que vamos. Por isso a mesa de anilhagem, antes das aves serem processadas é ocupada com outras coisas. Se esta sessão não visava nenhum objectivo específico, nem recolha de informação para algum projecto em desenvolvimento, serve para dar formação ao formando em estádio mais avançado, serve de treino na escolha de locais e de posicionamento de redes num local novo (desenvolver o tal olhar de anilhador) e tambem de aprimorar novas técnicas de captura de algumas espécies das quais conheço pouco. Por isso, após a captura de Pardal-francês neste local no passado dia 20, fiquei a pensar como poderia proceder a uma técnica que possibilitasse a captura desta espécie em numeros mais relevantes, que não a mera captura acidental, como até agora. E estou certo de ter conseguido, pois em duas horas de tentativas, a captura de 20 indivíduos é um indicativo da eficácia da técnica.
Registou-se ainda a muda de 10 Verdilhões, todas diferentes entre eles e dos obtidos na sessão de ontem. Fica uma correcção para quem leu o post de ontem, que eu ter considerado acidental a muda das duas caudais mais interiores de um indivíduo é capaz de não ser verdade, pois hoje foram obtidos mais registos iguais. Sempre a aprender. Esta foi a primeira sessão das "funnel trap" que coloquei a funcionar, com diferentes tipos de comida e tem o duplo interesse de descobrir quem prefere o quê e de capturar Verdilhões para registar a muda de plumagem que efectuam ao longo do ano. Posso dizer que o numero de aves capturadas foi baixo, mas só recentemente é que foi verificada a utilização dos comedouros de forma regular. Mas ficam os numeros razoáveis da espécie-alvo, o que promete bons registos para o futuro. Para já, dos 13 Verdilhões capturados só 4 apresentavam uma plumagem com penas de juvenil, assim posso começar a considerar em classificar com o código 2 os Verdilhões com plumagem de adulto a partir da fase de muda da pena após a nidificação. Se olharmos ao quarto registo que aqui apresento, a quantidade de juvenis que fazem muda completa deve ser elevada. O primeiro registo, de um macho, podemos considerar como um registo clássico de um juvenil que faz a muda da plumagem do corpo (todos eles a fazem) e muda as coberturas pequenas, médias, carpal, uma pena da alula e muda todas as coberturas das secundárias. A muda das caudais mais interiores deve ter sido acidental. Este segundo registo é interessante, pois muda o minimo: coberturas pequenas e médias, carpal, duas alula e muda a cobertura secundária mais exterior. Este registo tambem entra dentro dos registos frequentes de observar: Muda as coberturas pequenas e médias, carpal, duas penas da alula, coberturas das secundárias, terciárias e as duas secundárias mais interiores. Para já, comum a todos estes três registos é a ausência da muda das caudais Na fotografia da direita, podemos verificar que esta fêmea mudou tudo à excepção da secundária n.º 6. E é esta pena que dá a idade da ave, classificando-a como juvenil. Se a ave tivesse completado a muda, seria normalmente classificada como adulta, o que não é o caso.
Quando retiro das redes aves com anilhas estrangeiras ou espécies mais raras ou que alguem nunca anilhou, tenho o hábito de colocar o saco onde a ave foi acondicionada num mosquetão amarelo ou dourado como preferirem, que levo ao pescoço. Mosquetão este que na sessão de hoje esteve particularmente activo. A sessão foi desenvolvida nos campos de restolho de milho e olival disperso situados ao longo da estrada que liga as povoações de Gesteira a Vila Nova de Anços. Durante muitos anos desenvolvia aqui algumas sessões de anilhagem especialmente durante o período de inverno. A razão para aqui ter feito esta sessão, prende-se com o impulso que quis dar na formação do Tiago Silva, um novo local, diferentes espécies, inexistência de marcações nas linhas de anilhagem, outro tipo de redes e diferentes métodos até na deslocação às redes, de modo a potenciar a captura de algumas espécies-alvo, para alem de eu tentar observar a presença de outras espécies de Anthus que ainda não foram aqui observadas, embora existindo alguns episódios ao longo dos anos, que permitem alguma desconfiança acerca da sua presença por estes campos. Mas nesta sessão, nada de Anthus, nem observados, nem capturados. Em boa-hora que coloquei a funcionar uma linha de 5 redes de 1 bolso, já que foi daqui que capturei o primeiro ocupante do mosquetão amarelo, porque foi a primeira vez que capturei e anilhei uma Laverca. Quase a terminar o ano, uma das aves que mais gostava de anilhar e eis ela aqui. Depois foi capturar para alem desta, outras espécies novas para o Tiago num total de sete espécies, incluindo uns fantásticos Pardal-francês, espécie que aqui pode ser observada durante o período de Inverno. Clicar nas fotos para aumentar de tamanho
Já sabia que ia estar vento que iria afectar o numero de aves capturadas, mas como esclareci o Tiago, mais vale vinte aves anilhadas ao vento gélido que não anilhar nada no calor da lareira. Por isso, ganhou o Tiago a primeira provação a anilhar ao frio e ainda duas espécies que nunca tinha anilhado. Primeira captura neste local de Chapim-de-poupa e o controlo de um Pisco-de-peito-ruivo com penas brancas na área do pescoço e cabeça. Historial de felosinha
Measurements of birds Editado em 1931 pelo Cleveland Museum of Natural History a obra "Measurements of birds" é uma obra de referência no domínio desta temática. Está disponível um ficheiro em formato pdf na Biblioteca Digital - Posição 18 de Manuais Sexing Phylloscopus Acabado de ser publicado na revista Ringing & Migration deste mês, este artigo debruça-se sobre a determinação do sexo de algumas espécies do género Phylloscopus. O artigo está disponível na Biblioteca Digital na posição 17 de Determinação de Sexo e Idade. Identification of European Non-Passerines Chegou depois do outro e poder-se-ia pensar que seria a prateleira o local que lhe estaria reservado a esta obra de Jeff Baker, destinada a substituir a anterior, que apresentava erros em variadas espécies. Para já, as imagens a cores, tabelas bem explicitas e uma melhor arrumação gráfica, causam uma melhor impressão em relação aos não-passeriformes que constam no livro "Identification Guide to Birds in the Hand". Para já ainda vão todos para o campo.
Quando a Guida perguntou na sexta se lhe podia fazer um bolo de cenoura para a sobremesa do almoço de aniversário no domingo, respondi o que um filho responde a um pedido da mãe aniversariante: - Sim, mas tem de ser de manhã, porque de tarde vou para a Figueira anilhar limícolas. - E com quem é que vais? - É com o Luis que está a organizar a sessão. - E quem vai mais? - O Pedro - Quem é esse? - É o da serra - Áh. É o que faz caras engraçadas e aponta o dedo do meio nas fotografias com os passaritos? - É esse. É capaz de ir o Paulino, mas está adoentado e talvez vá o Paulo Ferreira se a mulher dele deixar. - Pois, coitado. Tambem andar metido com vocês !! - Vai tambem comigo o rapazito de Oliveira de Frades que começou agora a aprender. Vou apanhá-lo a casa, perto do Coimbra Shopping Lá me deixou os ingredientes em casa para o bolo de cenoura e desabafou: - Passei agora na pastelaria para encomendar o bolo de aniversário e estava lá um bolo-rei de carnes que tinha um aspecto delicioso. - Olha, até era uma coisa engraçada para eu levar para o pessoal que vai anilhar as limicolas. - Queres que vá lá comprar? - Não vale a pena, toda a gente leva sempre o que comer Mãe é mãe, não liga ao que dizemos e toca de comprar o bolo-rei de carnes para o pessoal comer durante a sessão de limícolas.
E que sessão! Tudo perfeito. Nem sopro de vento, lua fantástica, céu limpo, frio mais que suportável, boa companhia, o Luis, a Vanessa, o Pedro, o Tiago e eu. Linhas montadas, aves a serem capturadas ao longo da sessão. - Calidris canutus - Seixoeira - Numenius arquata - Maçarico-real - Tringa totanus - Perna-vermelha - Calidris minuta - Pilrito-pequeno - Calidris alpina - Pilrito-de-peito-preto - Charadrius hiaticula - Borrelho-grande-de-coleira E finalmente .............. e finalmente, ao cair do pano, às 2 da manhã, na ultima ronda às redes a Coruja-do-nabal - Asio flammeus. Fica completa a minha lista de rapinas nocturnas com ocorrência em Portugal. Fantástica captura para mim. Mas todos os outros do grupo tiveram direito a espécies novas. Foi uma sessão perfeita. Quando atravessava o Vale do Arunca na estrada entre Vila Nova de Anços e Cercal, para ir apanhar o Jorge, vi milhares de folhas de salgueiro a voar pelo ar fruto do vento forte, fiz "Ups" e imaginei que o mesmo estivesse a acontecer no Taipal. Mas não, à chegada tudo calminho, mas ficou dado o aviso para o Jorge: "Mal começa a soprar é correr para baixar as redes todas" Fácil de dizer, dificil de fazer, pois bastaram duas rajadas pelas 11 da manhã, para encher uma das redes com centenas de folhas e dar trabalho a retirar tudo. Começaram tambem a voar as folhas de caniço e principalmente as sementes, que fixam-se nas redes sem quererem sair nas semanas mais próximas. Podia ter sido pior, se na altura da montagem das redes não tivesse optado por reduzir a linha, não colocando a funcionar a rede que fica debaixo de salgueiros. A sessão de resto correu bem, com a recaptura de um indivíduo de Escrevedeira-dos-caniços anilhado neste local em 2014 e que serviu para o Tiago estudar um adulto sem sombra de dúvida. Registo de muda de corpo e de coberturas das secundárias de um Chapim-de-faces-pretas Em relação ao anterior post, recebi alguns comentários como o do Sérgio Marques "Grande dupla, qual dos dois se vai reformar :-) Abraço para ambos".
Mas reavivou memórias o do João Petronilho que escreveu: "Ó Jorge ainda andas na companhia desse gajo?;) Tás na mesma ... Paulo quando estiveres com ele dá-lhe uma abraço ... já lá vão um colh... de anos :) Era danado para abrir linhas, sempre a fumar e, enamorado daquela técnica dos SF :)" E aqui veio a lembrança do Jorge a abrir linhas com 120m de comprimento em caniçal, armado de um canivete com uma lâmina de 10cm, sem luvas nas mãos e de cigarro nos lábios. Era uma coisa do outro mundo, a abrir linhas em caniçal a canivete e no final parecia que tinha aberto aquilo a motorroçadora. Que tempos foram aqueles. Nenhum de nós se reformou. É por isso que aqui estamos, num feriado, num dia livre, a dupla a funcionar na mesma, a fazer algo que gosta. Aproveitando a ultima sessão de anilhagem de aves "institucional", não podia deixar de prestar a mais que merecida homenagem a um grande companheiro e amigo, ao Jorge Cândido, trabalhador rural e agora baptizado de assistente operacional, que me acompanhou desde 1993 nas sessões de anilhagem que desenvolvi como funcionário do ICN, ICNB e ICNF. Trabalhando comigo nas ZPE do Paul da Madriz e Paul do Taipal entre 1993 e 2008, sempre disponível para acompanhar-me a qualquer hora e a qualquer momento, durante semanas, meses, anos. Por sempre confiar na sua opinião, colocava-lhe muitas vezes a mesma pergunta que coloquei como título, quando pretendia saber o que ele achava da alteração de locais por variados motivos, da linha que pensava abrir, de tantos assuntos que envolvia a captura e anilhagem de aves. Por isso, no final desta sessão, coloquei-lhe novamente a pergunta: "Jorge, o que é que tu achaste disto?" "Nááá, não vale grande coisa". Quem fala assim não é gago. Mais de vinte anos a trabalhar com quem sabe mais que muitos. Mas continuo a não conseguir descortinar porque nos chamavam "a sorte grande e a terminação" Então como ultima sessão de anilhagem feita enquanto funcionário do ICNF, o local escolhido foi uma encomenda da Câmara Municipal de Leiria feita em Julho ao ICNF e à qual só agora foi possivel organizá-la. Ora o que são as Salinas da Junqueira e o porquê de uma sessão de anilhagem? As Salinas da Junqueira são das únicas salinas interiores da região. Situam-se entre as povoações de Carreira e Sismaria, na União de Freguesias de Monte Redondo e Carreira (Leiria). As salinas resultam da ascensão de água salgada que passa por um diapiro de sal-gema e gesso que existe no local, aumentando assim a salinidade dos aquíferos. É uma salina recente, pelo que foram fundadas por José Rolo Júnior e funcionaram entre 1922 e 1980. Dessas salinas saiu toneladas de sal "Império", que era distribuído por todo o país. A salina começou a entrar em declínio em 1960 devido a uma diminuição da salinidade da água resultante de obras hidráulicas efectuadas no local. Mas mesmo da salina ter sido encerrada, devido ao substrato turfoso e ao solo movediço do local, a água nunca seca mesmo no Verão, proporcionando o crescimento de juncos (daí surge nome da salina) e também de caniçais e uma mata de amieiros e salgueiros. Hoje essa vegetação palustre apagou quase todos os vestígios de actividade humana no local, mas as salinas foram alvo de obras de recuperação e valorização em 2006 com trabalhos de valorização inseridos num programa INTERREG IIIB implementado em parceria com Espanha, França e, Inglaterra, destinado a salvaguardar áreas de salinas. No entanto, na actualidade o panorama é desolador, com uma área abandonada e todas as infra-estruturas em avançado estado de degradação. O porquê do pedido para a realização de uma sessão de anilhagem vem do facto de candidatura ao programa Interreg ter sido organizada ou apoiada pela empresa Mãe D'Água que tem nos seus funcionários alguns anilhadores, que organizaram em 2006 uma sessão de anilhagem, utilizando na época, isto de acordo com uma técnica da CML a quantidade impressionante de 60m de redes. A repetição de tal actividade entre outras iniciativas, na opinião transmitida, dirige-se a aumentar o conhecimento da área e a combater o estado de abandono deste local. Para esta sessão, foram abertas 4 linhas de anilhagem que possibilitaram a montagem de 222m de redes no total. Não posso dizer que existiu algo de diferente que estivesse à espera de capturar ou de observar em relação a outros locais similares, mas fica o registo da captura de um Phylloscopus trochilus, no que é um dos meus registos mais tardios desta espécie. Nesta sessão, praticamente a jogar em casa, tive o valioso auxílio do Henrique Letra.
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