Vamos começar pela ultima sessão. Com a ajuda do Nuno Paulino, hoje foi feita uma sessão no caniçal do Paul do Taipal. Não teria grande história, se não fosse o Nuno a gritar MUSEUM e a levantar a mão para dar um "give me five" com uma Emberiza schoeniclus na outra. É das aves invernantes aqui por estas bandas em que existe uma maior probabilidade de capturar indivíduos com anilhas estrangeiras, pelo que sempre que vamos à rede, andamos sempre de olho nas patas. A de hoje, foi a ultima a ser retirada da rede, quando aos dois já esmorecia o desejo de recapturar uma ave com anilha estrangeira. Com este indivíduo, são já 14 as recapturas com anilha estrangeira desta espécie. No mês passado recebi um pedido da Central Nacional de Anilhagem para verificar se um Erithacus rubecula com anilha belga que tinha recapturado em Brasfemes no dia 02/01/2015 era mesma desta espécie. Isto porque a Central de Anilhagem belga informou a portuguesa que existia um erro da minha parte na identificação da espécie, pois o código da anilha estava atribuído a outra espécie diferente da que tinha reportado. Já que tal situação tinha ocorrido uma vez com uma anilha inglesa, passei a fotografar a totalidade da inscrição das anilhas estrangeiras e a ave, não fosse acontecer idêntico problema. Vai daí que ao receber este pedido de clarificação, respondo "ora estes agora" e envio as fotografias comprovativas. E cá está o historial do Erithacus rubecula, anilhado no Luxemburgo com anilha belga. Tenho a certeza que deve andar um anilhador belga ou luxemburguês a coçar a cabeça, sem entender muito bem como se enganou. Fica para a história o facto de ser a minha primeira recaptura de uma ave anilhada naquele país.
Depois para finalizar, seguem os registos de duas sessões na Mata Nacional do Choupal. Serviram para dar início à formação do Henrique Letra e para dar continuidade ao Luís Pedro. Já agora, para os restantes anilhadores que participam nas minhas sessões e eu nas deles, muitas alegrias vai dar-nos este Luís Pedro. E não preciso dizer mais nada, porque todos sabem que para eu escrever isto, é porque temos campeão, sujeito à mais humilhante das alcunhas. Estão a ser muito animadas estas sessões, que por incrível que pareça, já fazem esquecer o Ruizito da Avenida de Roma. Fica uma nota: a abundância de sessões devem-se ao facto de a organização governamental para a qual trabalho, ter decidido face à penúria financeira que atravessa, suspender toda a actividade profissional que eu e os meus colegas deveríamos estar a desenvolver. Fomos por isso, colocados sentados a uma secretária o dia todo. E isso eu não faço. Prefiro andar a pé, madrugada fora a montar as redes aqui e ali, mantendo-me ocupado e tentando dar alguma utilidade ao que faço no meu período de trabalho, nem que seja a dar formação a futuros anilhadores.
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Nestes tempos mais frios e chuvosos, em que a comida tambem falta, a taxa de mortalidade dos passeriformes aumenta. Muitas vezes as noites fazem o seu efeito nas aves que são capturadas logo na primeira hora da manhã e por isso, aparecem algumas aves com sinais de hipotermia. Normalmente nestes casos, identifica-se a ave, para que na chegada à mesa de anilhagem, esta seja processada o mais rapidamente ou que seja acondicionada em local quente, sendo que muitas vezes é colocada debaixo da roupa do anilhador, para que receba algum calor que lhe permita ultrapassar a hipotermia que regista. Na sessão de Vale Soeiro, organizada pelo Luis, participou uma aluna vinda da Galiza, que frequenta a Universidade de Coimbra e que manifestou o interesse em participar nas nossas sessões de anilhagem. A Irene reparou que tinha acabado de colocar a Sylvia atricapilla debaixo da minha camisola polar e perguntou se: - Quieres mi calentador de manos? - O que é isso? E tira da mochila uma pequena bolsa de plástico com gel azulado dentro, apertou-a e deu-ma. Aquilo começou imediatamente a aquecer. - Fantástico, que temperatura atinge? - Entre cuarenta hasta cuarenta y cinco. - Quanto tempo dura? - La temperatura máxima de casi una hora. Saqueta para dentro do saco, Sylvia atricapilla tambem e daí a uma hora saiu do saco com os turbos todos ligados. Uma saqueta custa entre 1,2 e 1,5€ e é reutilizável perto de 50 vezes. Passou a equipamento que vai para dentro do meu caixote de anilhagem. Quarta à noite, depois de sair de serviço, rumei rapidamente até Aveiro para participar numa sessão de captura de limícolas, organizada pelo Luis Silva e Pedro Lopes. Já passaram uns meses desde a ultima sessão em que participei, por isso foi importante voltar a entrar em salinas à noite e participar na captura de limícolas.
Nas manhãs dos dois dias seguintes organizei duas sessões de anilhagem de passeriformes no Choupal, em Coimbra. Na segunda sessão, eis de volta o pretendente a anilhador, o que o coloca no grupo dos 10% que resiste à primeira sessão. Com vontade anda ele. Quando retirei este indivíduo do saco, julguei que tinha acontecido algum acidente, ou na rede, ou no manuseamento, para uma das primárias aparecer ao contrário, com a parte superior virada para baixo. Depois reparei melhor e dado que a pena estava bem fixa à asa, o desgaste da pena, concluí que a pena tinha nascido assim, virada ao contrário.
Este caso nem é o mais esquisito dos que já encontrei, pois esse título pertence a um Carduelis carduelis que tinha caudais fixas no meio das costas. O resto da sessão no Taipal, foi normal, com um ligeiro aumento de capturas de Emberiza schoeniclus, comparativamente com as sessões anteriores Vi-o poisado numa couve, do outro lado da rede. Ora bem, como é que faço para não espantar o gajo? Devagarinho, passei debaixo da rede, coloquei-me atrás do pé de couve e espantei-o em direcção à rede, bateu uma e saiu, bateu segunda e saiu e eu a ver que a rede estava a acabar e ele ia fugir. Por isso, pequei numa das guias horizontais, puxei-a com força e rapidez e enrolei-o em voo dentro da rede.
Depois foi enviar um sms a perguntar quem o queria anilhar. A minha história com esta espécie, Regulus regulus é interessante. Andava eu ainda em formação, nesse dia com o George Stilwell, que por ser médico-veterinário, parte das sessões ausentava-se devido aos afazeres profissionais. Por isso quando capturei um e o meu colega o identificou erradamente, disse que não era o que ele pensava, era o outro, o mais raro e que o anilhasse, que eu depois apanharia outro. E só 20 anos depois é que consegui capturar outro e anilhar pela primeira vez esta espécie. Hoje foi o segundo e logo no meu quintal. Quando aparecem novos pretendentes ao trono de credenciado de anilhador, repito sempre o mesmo discurso: "Caríssimo, 90% dos pretendentes a formandos que me aparecem à frente, nunca mais aqui aparecem após a primeira sessão". O "glamour" de ter a ave na mão rapidamente desaparece quando a dificuldade em manusear correctamente uma ave na mão se faz sentir, ou então as inúmeras tentativas de medir correctamente uma asa, barram na dificuldade de manejar a régua e uma asa e um chato a informá-lo que a ave está a começar a abrir o bico. Tambem aceito que frequentar a minha mesa de anilhagem não é fácil, nem é para todos e para continuar a fazer jus a isso, não é no primeiro dia que as coisas são tornadas fáceis para agradar o pretendente à coisa. Por isso, quando me aparece pela frente um entusiasmado e sorridente pretendente a anilhador, a esbanjar confiança, fico-me a perguntar se ele pertence ao lote dos 10% que possuem força psicológica para aguentar e tornar-se um anilhador, ou se pertencerá aos 90% que acha que isto de anilhar passarinhos é giro, os gajos que ensinam é que são um grandessíssimos coiros. Ó Luis de Santa Comba Dão, aguentas-te? E para esta sessão, na qual apareceram mais uns interessados em aprender alguma coisa sobre a anilhagem, tive a ajuda do Pedro Lopes e foi feita a escolha de um local onde fossem capturadas poucas aves, porque muitas aves e formação ao mesmo tempo dá sempre confusão. Mas deu uma espécie nova para o Pedro.
O Paul da Madriz é utilizado no Inverno como dormitório de uma série de espécies, entre as quais o Tentilhão-comum e o Tentilhão-montês, sendo que o efectivo da primeira espécie pode ser contada na ordem de milhares, a segunda menos comum. Apesar da quantidade é difícil observar o grupo todo dentro do paúl, já que se espalham por todos os 40 hectares, poisando em todas as árvores e arbustos ali existentes. Por vezes é possível ver o bando em campos de restolho de milho e arroz, em olivais e outros campos agrícolas do Baixo Arunca.
Por vezes alguns indivíduos são capturados durante a saído da zona húmida para os campos agrícolas e hoje foi um desses dias. Alem de Fringilla coelebs, foi tambem capturado um Fringilla montifringilla, que dada a raridade da sua captura, torna-se de imediato a estrela da sessão. Não atingindo as dimensões de Salreu, por aqui tambem aparecem de quando em quando algumas aves exóticas que utilizam o caniçal. É bem mais fácil ver os Euplectes afer nos campos de restolho de milho e arroz, perto de bandos de pardais, do que vê-los dentro dos caniçais e por isso, quando por aqui aparecem, lá fica o dilema do que fazer com eles. Quanto ao resto da sessão, verifica-se um aumento de capturas de Phylloscopus collybita, ainda poucos Emberiza schoeniclus, alguns Acrocephalus scirpaceus (refira-se que apresentavam índices elevados de gordura), Luscinia svecica e Remiz pendulinus. Desta ultima espécie, Remiz pendulinus, fica o registo de uma muda suspensa de um juvenil, apresentando secundárias e primárias mudadas. Foi a primeira vez que registei tal tipo de muda nesta espécie Por ultimo, mais um controlo de Phylloscopus collybita com anilha inglesa.
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March 2024
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