Pelo quarto ano consecutivo a Estação de Esforço Constante de Brasfemes (Coimbra) está a participar no PEEC-Nidificação www.peec.pt
Esta primeira sessão conseguiu ser feita num intervalo de mau tempo generalizado por esta região, tendo começado com alguma chuva no período de montagem das redes, mas depois a melhoria das condições meteorológicas permitiram que a sessão fosse realizada sem percalços de maior. Poucas aves capturadas, mas num espaço florestal em plena época de nidificação, tambem não estávanmos à espera de melhores resultados. Destaque para a captura de uma Felosinha-ibérica e de um Chapim-rabilongo com pelada de incubação em fase 4, o que quer dizer que já efetuou a incubação e que agora, caso a eclosão tenha tido sucesso, anda agora ocupada a procurar alimento para os juvenis.
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O Lugre é uma espécie invernante em Portugal Continental, nem sempre em grande numero ou facilmente observados. Não eram conhecidos registos de nidificação confirmada até à realização do Atlas das Aves Nidificantes em Portugal cujo trabalho de campo realizou-se entre 1999 a 2005. Durante a realização do trabalho de campo deste Atlas, na zona da Ponte das Três Entradas - Serra do Açor realizei uma observação de um casal desta espécie a transportar alimento e com comportamento defensivo à minha presença. Então desloquei-me uns dias mais tarde a este local com o meu amigo Nuno Paulino para testemunhar esta observação e o comportamento deste casal. Não sei se após este registo de nidificação, existiu mais algum para Portugal Continental, mas não vem muito aqui para o caso.
De 1993 até 2022 capturei 147 indivíduos, o que dá uma média de cinco por ano. No ano passado foram capturados e anilhados um total de 171 indivíduos e este ano de 2024 já foram capturados e anilhados 86 indivíduos. Estes números devem-se à utilização de outra forma de captura para alem das redes verticais e estão a servir para registar quantos indivíduos regressaram ao local de invernada no ano seguinte, mas tambem para obter registos da muda pós-juvenil. Depois de terminada a sessão no Taipal, abri a base de dados, dividi os registos mensais de capturas de Garçote em três décadas distintas e fiz este gráfico simples. Na ultima década a situação alterou-se, quer na época de nidificação, digamos sem sucesso reprodutor e o aparecimento de registos no período de inverno. Sei que não levei em conta a idade e o sexo dos indivíduos, não olhei para as recapturas, mas mesmo só pegando nas capturas da espécie, deu isto.
Quanto ao resto da sessão, correu tudo bem, ficamos satisfeitos quer com as espécies, quer com os números, quer com a conversa. O termo "maquis" refere-se a um tipo de vegetação mediterrânea composta por arbustos densos e resistentes, geralmente encontrados em regiões de clima temperado, como no sul da Europa. A vegetação de maquis é caracterizada por uma variedade de plantas, incluindo arbustos, ervas e algumas árvores resistentes à seca. A importância botânica e ornitológica de um maquis está relacionada aos diversos ecossistemas e recursos que ele oferece.
A Serra do Alhastro, ou do Ilhastro ou de Brasfemes, como quiserem chamar, era uma área ocupada por vegetação mediterrânica, tipo "maquis" que providenciava as condições perfeitas para a ocorrência de Toutinegra dos valados e especialmente de Toutinegra do mato. Nesta região era um dos locais onde era possível encontrar a sua maior abundância. A CIMPOR é proprietária de grande parte dos terrenos situados neste espaço que separa Brasfemes de Souselas e decidiu instalar no seu topo plano, painéis fotovoltaicos para a produção de eletricidade. Cortou recentemente toda a vegetação num espaço de 12 hectares. Imaginei logo que todas aquelas espécies teriam de se espalhar pelos terrenos das redondezas, tendo a Daniela informado que tinha visto Toutinegra do mato em terrenos próximos ao seu quintal. Por isso não foi dificil imaginar que na zona onde está em funcionamento a EEC Brasfemes - Nidificação, que esta espécie tambem pudesse por ali andar. E assim aconteceu, tendo sido capturado um macho adulto, com uma plumagem em bom estado e cores lindas. O resto da sessão, foi aquilo que se esperava para esta altura do ano. Regressado da Noruega, onde passou o 2023 quase todo a trabalhar em censos de aves e também fez o gosto ao dedo a anilhar as aves que muitos de nós só vê nos guias, eis que temos de volta o DP. Mais concretamente o Diogo Portela, cheio de experiencias para contar e sabemos que as próximas sessões vão ser bastantes animadas. A sessão feita neste local mítico da anilhagem nacional, onde em 1977 alguns membros do Iberian Ringing Group, subsidiária do BTO - British Trust For Ornithology anilhou pela primeira vez em Portugal, tendo inclusive um deles, convertido num ícone de muitos dos anilhadores nacionais, nos quais eu incluo-me, tratando-o eu como meu eterno Mestre. A sessão foi o que foi, nesta altura do ano, num espaço florestal sem grandes flores que atraiam as aves, reduz-se ao mínimo. Mas é assim mesmo, útil para quem quer aprender. Entretanto, aumenta o numero de livros na biblioteca, com mais uma edição do "Identification Guide to European Passerines". Periodicamente vou procurando mais edições deste livro que é considerado a bíblia dos anilhadores, que vale principalmente pelo primeiro capitulo, o qual eu aviso todos os meus formandos, que se entenderem este capitulo, quase que escusam de ler o resto. Terminado o período de migração, a contagem ainda não está feita, já que a inserção na base de dados dos registos de outubro ainda não está concluída. Mas os registos de agosto e setembro fazem adivinhar que foram atingidos números muito interessantes, para além dos 41 controlos de aves com anilha estrangeira, isto sim a pulverizar o anterior record. A sessão de hoje marca o início da época de inverno, quando muito pela subida dos níveis de água, a impedirem a abertura da linha 1. Ainda estão a ser capturados alguns migradores, como o Rouxinol-dos-caniços e um Papa-amoras. Números elevados de Felosinha e de Toutinegra de barrete. Durante o período de inverno, por vezes são capturadas aves que apresentam sintomas de hipotermia. Normalmente utilizava uns sacos que contêm um gel, que uma vez accionada uma patilha metálica, imediatamente produziam uma reação química que libertava calor. Para nova utilização, tinha de ser mergulhado em água a ferver e apresentava uma durabilidade de aproximadamente 50 utilizações. Neste dia experimentei um aparelho com as mesmas funções, recarregável por USB e que pode produzir temperaturas de 40º, 50º e 60º. Muito eficaz nas duas situações de hoje, com duas Felosinhas a recuperarem rapidamente. Nos idos anos 1998 a 2000 participei no Euring Swallow Project, trabalho onde aproveitei para monitorizar alguns dormitórios existentes no Baixo Mondego, em parceria com o João Petronilho, que monitorizava um dormitório localizado no Poço da Cruz, a norte da Praia de Mira. Parece estranho falar do Petronilho como anilhador, mas foi sim, antes de alcançar a notoriedade como fotógrafo. Tempos em que éramos mais moços, cheios de força e vontade e este trabalho ainda produziu umas comunicações em congressos, o mais famoso dos quais foi em Espanha, em El Rocio, onde o Nuno Paulino, um puto na altura, decidiu colocar açúcar na cama de uns maduros, que acharam piada, pois já pensavam na forma de colocar a meio da noite na varanda do quarto de hotel a cama com ele deitadinho a dormir como um bebé. E conseguimos sem o acordar. Mas adiante, já que nos últimos anos nunca mais conseguimos contar bandos pré-migratórios de Andorinha-das-chaminés com a dimensão daqueles anos e falamos de contagens que atingiam 40.000 a 60.000 indivíduos nos pauis da Madriz (soure) e principalmente no Taipal (Montemor-O-Velho). E tenho falado nestes ultimos anos desta situação. Ontem no Taipal, de repente, percorrem o caniçal cerca de 10.000 Andorinhas-das-chaminés e fazem dormitório na vala principal. Nem imaginam a minha alegria. Meia duzia de filmagens para enviar aos amigos e depois passei a noite toda a anilhar os individuos capturados. Bem, a noite toda é exagero, já que descansei das duas às cinco da manhã. Mas foi um grande por-do-sol e uma grande noite. Quase sessentão e sozinho ainda dei mais ou menos conta do recado. Mas os reforços da manhã foram bem recebidos, a Isa e o Armindo a processar as aves capturadas, o Alex a registar nas folhas de anilhagem. Fixe. E uma muda muito interessante de um juvenil de Andorinha das chaminés. Mais tarde farei um esquema desta situação
Terminada com sucesso a participação no PEEC - Nidificação, com as 12 sessões necessárias, viramos agora as baterias para a época de migração que já teve início, registada nesta sessão com a captura de Felosa-dos-juncos e de um Rouxinol-pequeno-dos-caniços com 70mm de medida de asa. Esta sessão teve um ponto interessante que foi a recaptura de uma Felosa-dos-juncos com anilha portuguesa. É coisa rara, normalmente só acontece numa mesma semana, quando a ave continua no mesmo local a alimentar-se para depois prosseguir a viagem migratória. Mas a numeração desta anilha foi utilizada no ano anterior e por isso tratava-se de um registo raro e mais raro se tornou quando após a consulta da base de dados verifiquei que tinha sido capturada e anilhada em 22 de Julho de 2022. Portanto, exactamente um ano depois, cá a temos a passar e a ser capturada no Paul do Taipal. Esta Cigarrinha-ruiva apresentava uma muda bastante interessante, a mudar tudo menos as secundárias, a cauda apresentava uma muda das penas ao mesmo tempo e não de forma sequencial.
Quando se anilha com quem também sabe, eu vou à minha vida. Depois de todo o equipamento montado, pequeno almoço tomado, agarro na rede de captura de borboletas e procuro olival fora, não só as borboletas diurnas, mas também nocturnas que por esta vegetação procuram abrigo. E o pecúlio tem aumentado para minha satisfação.
Entretanto, os moços lá estão de volta das redes e na mesa de anilhagem a fazerem o que têm de fazer. A minha atenção só é desviada em caso de algum alvoroço. E desta vez, o David lá exibia um sorriso dos grandes perante a primeira Rola-brava que anilhou na vida. E com isto, vão sete sessões do PEEC sem falhar. |
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March 2024
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