"Bem que podiam ir na segunda, vocês estão a fazer tudo para eu levar uns calduços no domingo" dizia sorrindo aos meus colegas que na passada sexta atarefavam-se com a preparação de um auto-de-.notícia com uma coima nada simpática a entregar a um dos organizadores desta sessão de anilhagem com a participação de público.
Esta sessão organizada pela Associação dos Baldios de Vila Nova e pela Associação dos Caçadores de Vale de Arinto com a parceria do ICNF decorreu numa área agrícola fronteira à povoação de Vila Flor na freguesia de Vila Nova. O sábado foi utilizado para fazer a escolha dos locais onde iam ser colocadas as redes de captura e feitas as respectivas marcações. No domingo bem cedo as redes foram colocadas a funcionar com a ajuda do Luis Silva e a sessão ainda contou com a ajuda do Paulo Ferreira. Correu muito bem, verificando-se na assistência a presença dos elementos do executivo da Junda de Freguesia, elementos da Direcção da Associação de Caçadores e da Associação dos Baldios. Podia ter corrido melhor não fosse ter recebido um telefonema a meio da manhã do Sr. Manuel, proprietário do Bar do Choupal a avisar que o rapaz que tinha ido comigo, tinha deixado o carro com as luzes ligadas :-) No final da minha penultima sessão de anilhagem que faço como funcionário do ICNF, fui agraciado com um delicioso almoço de leitão num restaurante em Miranda do Corvo. Que excelente calduço eu levei :-)
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Em 2013 foram feitas 3 sessões de anilhagem em Pedrogão do Pranto para tentar capturar Acrocephalus paludicola. Este local de inúmeras valas e campos de arroz tem potencialidades para a presença desta espécie durante a migração e daí as tentativas feitas. Apesar de nenhum indivíduo da espécie-alvo ter sido capturado, as capturas de outros migradores foram elevadas. Conseguiu-se controlar dois Acrocephalus scirpaceus com anilha francesa e foi controlado outro em Inglaterra aqui anilhado. Esta semana recebi o historial de outro Acrocephalus scirpaceus que foi controlado na Polónia. Uma estreia para este país
Na véspera da sessão de hoje, acompanhei o Luis e o Pedro na captura de rapinas nocturnas num local próximo à cidade de Coimbra. No período em que estive presente foram capturadas e anilhadas duas Coruja-das-torres. A que me coube anilhar fez-me o favor de furar um dos meus dedos com as unhas, que serviu para eu abrir a pestana para a próxima. Na sessão do Taipal foi controlada a 147ª ave com anilha estrangeira, uma Escrevedeira-dos-caniços com anilha da Suécia. É a terceira deste país e a segunda desta espécie.
O resto da sessão correu a bom ritmo, com espécies novas para alguns. A sessão estava inicialmente programada para a Senhora do Circulo e por isso, costumo ir lá de véspera colocar os fios necessários para as quatro linhas. É uma tarefa que demora 15 minutos, mas que proporciona-me alguma rapidez na montagem das redes no dia seguinte. Mal lá cheguei, encostei-me ao carro e ali fiquei a matutar durante meia hora, sem saber muito bem o que fazer. Decidi regressar a casa e alterar a sessão para o Taipal. A previsão da passagem de nuvens baixas durante parte da manhã, numa zona de elevação dá para colocar as redes todas a pingar e não era situação que me interessasse, e no Taipal esta passagem de nuvens era rápida. Assim de manhã, eu e o Nuno montamos as 12 redes de 15 metros e ficamos a aguardar. Na primeira ronda duas aves interessantes que nos fizeram perder algum tempo a fazer alguns registos fotográficos. Uma foi identificada como sendo Phylloscopus collybita tristis A outra ave deixou duvidas em relação à correcta identificação da sub-espécie. Penso que possivelmente será Phylloscopus collybita abietinus, mas para já sem nenhumas certezas. Uma das felosinhas capturadas apresentava as caudais cortadas, excepto as C1D e C1E, mas estas podem ter sido arrancadas durante a situação que provocou o corte e depois de crescerem, dão esta imagem diferente da cauda deste indivíduo Depois na terceira ronda é que a sessão animou de vez. Cada um do seu lado da rede a retirar as aves, fui sendo mais rápido e quase no final da linha lá a vi. Ave diferente das restantes que tinhamos capturado nesse dia, lá ergui o punho cerrado para o Nuno, uma gargalhada e ele viu logo que íamos ter assunto para o resto do dia. Coloquei algumas fotos disponíveis na internet e telefonei ao Luis para dar uma olhada, discutimos e chegamos à conclusão que se tratava de uma Escrevedeira-pigmeia, ave rara por estas bandas. Uma das coisas interessantes nesta captura é o facto de ser a segunda que capturo neste local e ambas no dia do meu aniversário. O Luis perguntou se podia aparecer para ver a ave, eu disse-lhe que ainda não tinha sido anilhada, mas que seria o Nuno a anilhar. Sem problema disse ele. Bem, mas eu conheço-o bem pela persistência e teimosia e sabia que ele ia preparar uma estratégia para ver se conseguia ser ele a anilhar esta espécie. E acertei em cheio. No caminho de casa para o Taipal, parou nesse templo da doçaria conventual do Baixo Mondego e manda forrar a caixa com queijadinhas, com o intuito de: 1 - subornar-me pelo estômago; 2 - ou provocar-me um coma glicémico, deixando-me sem reacção. Esperto o meu caro amigo, mas resisti. Nada de doçaria e quem anilha mesmo é o Nuno :-) E pronto, depois fui ver o cisne que nada pela pista de remo em Montemor-o-Velho e o peneireiro-cinzento, cotovia-arbórea, laverca e outra passarada para os lados do Rabaçal e da Fonte Coberta. Foi um dia bem passado.
A deslocação entre a minha residência e o local onde vai ser realizada a sessão de anilhagem funciona em modo automático e por isso qualquer coisa que fuja ao habitual, demora o seu tempo a ser assimilada. A roupa fica estendida no chão da minha casa de banho e por ordem, em cima a roupa interior, depois as calças, a t-shirt, as meias e por fim a camisola polar. Junto à porta da casa fica a mochila com os documentos e binóculos, o saco com o pequeno-almoço e almoço, as botas e as chaves do carro dentro delas. O carro fica em frente ao portão da garagem, o material junto ao portão na ordem de entrada na viatura, primeiro o caixote das amostras, depois o caixotes dos guias, o caixote do material de anilhagem, o caixote das anilhas, as cadeiras, a mesa, o saco dos fios, os tubos, o pau-de-subir-as-redes, a caixa das estacas, o saco dos sacos e os sacos das redes. e depois é seguir viagem. Por isso quando uma vez o Paulo Ferreira telefona a meio da noite a dizer que já estava no Taipal, perguntando onde eu andava, saltei da cama com um grito "adormeci pá, já vou para aí", e quando chego à minha casa-de-banho e não vejo a roupa estendida no chão, só me lembrei de pensar " caraças logo hoje esqueço-me de preparar a roupa" mas quando chego ao rés-do-chão e não vejo nem mochila, nem saco da comida nem as chaves dentro das botas, lá parei, sentei-me, liguei o cérebro e finalmente entendi: "Ó Paulo és um grande formando, até vais de véspera para as sessões, o Taipal é amanhã". Hoje quando o Tiago telefonou-me no preciso momento em que estou a sair de casa, a dizer que já estava no Taipal, acelerei, vermelhos era para os outros, a pensar que raio de hora é que era esta, se era eu que estava atrasado, se tinha dito mal a hora, o que raio se tinha passado, quando a explicação era mais simples. Caloiro, recém-residente nesta cidade, julgava que Montemor-O-velho era lá para os confins do mundo e toca a ir cedo para não chegar tarde. Não é preciso chegar com uma hora de antecedência, mas como diz a minha mulher, se chegou nas duas primeiras sessões antes da hora, estima-o. Com este introito todo até poderiam pensar que o mais importante estava dito, mas não. Quem apareceu, quem foi: a Joana. A minha Joaninha, a minha formanda e anilhadora, que sempre ficou aqui no coração. Se a ela faz-lhe bem aparecer nas sessões de anilhagem, a mim faz-me bem ela aparecer. O Henrique tambem foi presença no Taipal, com saída antes da parte de arrumar o material. A homem de família tudo se perdoa :-) Quanto ao resto, à passarada, vamos então a isso: - Senhora do Circulo foi um puff. A passarada diminuiu em grande, talvez pelo Falcão-peregrino que por lá andou a fazer voos rasantes, mas não acredito muito. Duas Toutinegra-do-mato e possivelmente a ultima Felosa-das-figueiras do ano. Muito interessante a Toutinegra-dos-valados com 6 de gordura, valor muito elevado para a espécie. Caiu nas redes um morcego, provavelmente Morcego grande de ferradura Rhinolophus ferrumequinum que deixou um rasgão na rede como nenhum outro até agora conseguiu fazer. Um Pisco-de-peito-ruivo com algumas penas brancas na cabeça e peito. - No Taipal regista-se um aumento de Escrevedeira-dos-caniços, uma suscitou a atenção, porque provavelmente seria da sub-espécie lusitanica, outra por possuir coberturas pequenas de cor branca. Capturados dois Rouxinol-dos-caniços, registo tardios, mas longe de outros registos similares.
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March 2024
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