Numa sessão de anilhagem inscrita nas actividades organizadas pela Associação de Defesa do Património Cultural e Natural de Soure para cidadãos de 3 países diferentes (Letónia, Itália, Macedónia e Portugal), torna-se necessário puxar pela língua inglesa. A coisa está mais ou menos preparada, já que tenho colaborado nos recentes programas de intercâmbio Youth Outdoor II que a ADPCNS tem organizado nos últimos anos, e por isso o discurso está mais ou menos estabelecido, bem como as respostas que os jovens participantes colocam. Normalmente abordam a parte de organização, transmissão do conhecimento obtido entre outros aspectos mais sérios do estudo das aves com o recurso à anilhagem. Este ano os letões foram os mais "sérios" nas questões que colocaram.
Estas sessões de demonstração e abertas ao público obrigam a presença no mínimo de mais um anilhador e o Luís Silva assumiu esse papel de ajuda e colaboração de uma forma perfeita, com a ajuda do Rui Machado. Quanto à sessão propriamente dita, a captura de Luscinia megarhynchos deu alguma animação.
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Ao contrário dos outros locais onde anilho regularmente, zonas calmas, recatadas, quase sem presença humana, o Choupal tem algo a que dou o nome de "uma alegria". Ainda a montar o equipamento de captura e já andam jovens atletas a correr de um lado para outro, a manter a forma ou em trabalhos de apuro físico, com resultados excelentes em algumas delas, para deleite dos formandos e anilhadores mais novos que aparecem nestas sessões..
Depois aparecem mais tarde, lá para o meio da manhã as raparigas da minha idade, algumas nestes esforços desde Março, altura que começa a preocupação de se apresentarem na praia em forma física, por isso, em passo acelerado, são poucas as que respondem aos bons-dias que vou lançando. Hoje a anilhar sozinho, na altura em que capturei o maior numero de aves, aparecem-me duas raparigas sorridentes, a perguntar porque os sacos mexiam-se tanto. Convite feito de imediato para aproximarem-se da mesa, logo se lança uma explicação rápida sobre anilhagem e como exemplo, tinha a sorte de ter capturado uma daquelas aves que logo todas começam a dizer "que fofinho", "ai tão lindo", "que coisinha tão pequenina", "é um colibiri?". Anilhado o Regulus ignicapillus, o Erithacus rubecula e a Sylvia atricapilla, ainda dando tempo para sabermos mais algumas coisas. Depois voltaram ao passo acelerado e lá foram Choupal fora. Para mim, horas de visitar novamente as redes, logo que apanhei o Buteo buteo, ri-me e lá pensei que "este matulão é que elas gostavam de ver, tiveram azar" Chamei o Rui para vir anilhar aquela que seria a primeira ave de rapina e no período de espera, eis que me aparecem novamente, agora num segundo round de caminhada, a recuperar o tempo perdido, as manas sorridentes. "Olhem, venham cá ver este". Hoje o treino foi diferente, espero que tenha sido interessante, porque por mim, podem continuar, porque este Choupal está "uma alegria". Quanto à passarada, tudo normal. Neste espaço florestal fechado e sombrio, onde ainda é preciso usar na primeira ronda um frontal para iluminar as aves mais pequenas ou os morcegos que caem nas redes, é na ultima ronda que metade das aves capturadas em cada sessão são capturadas. Á medida que o calor e a exposição ao sol aumenta nas copas entre os 20 e 40m de altura, que as aves começam a descer para alturas mais próximas do solo. Daí que fica sempre na ideia de tentar saber o que acontece no resto do dia, caso as redes ficassem a funcionar o resto do dia. Aproveitando a área que denominei Choupal 3 estar permanentemente à sombra e por ser uma zona relativamente fresca, na próxima sexta a sessão vai decorrer desde o nascer ao por-do-sol. Mas para já, em relação aos outros locais, verificou-se um aumento de captura de Sylvia atricapilla, comparativamente com os outros locais (quase ausente de Choupal 1 e 2) o que indicia que esta zona vai servir de local de alimentação para um grande numero de juvenis em dispersão e de migradores.
Começou-se também a registar juvenis em processo de muda de corpo e de coberturas de secundárias. Esta sessão decorreu sob convite da Associação de Defesa do Património Cultural e Natural de Soure http://www.adpcnsoure.org/ no sentido de organizar uma sessão de anilhagem de aves que tivesse como objectivo mostrar algumas aves do Paul da Madriz e também a dar a conhecer alguns aspectos do mesmo. A elevada abundância de amoras e de bagas de sanguinho-de-água na zona da linha 2 a funcionar no Paul da Madriz já provocou que aves que as escolhem como alimento preferencial nesta altura do ano comecem a concentrar-se neste local. Capturar 51 aves de 3 espécies (Sylvia atricapilla, Sylvia melanocephala e Erithacus rubecula) foi obra e significa que dada a grande disponibilidade alimentar neste local, vá provocar que ao longo desta temporada de migração e de dispersão de juvenis, sejam capturadas bastantes aves neste local, como tem sido habitual nos anos anteriores. Contudo, tenho a sensação que este ano a disponibilidade de bagas e frutos é bastante mais elevada. A captura de 3 Hipollais polyglotta também significa que as aves estivais começam a deslocar-se na procura de locais com alimento, para armazenarem reservas para a migração. Vamos ver que aves migradoras vão começar a aparecer de agora em diante. Fica reservado para ultima a enorme surpresa do dia. A captura de um Dendrocopos minor pela primeira vez neste local, mostra que a sua expansão por esta região é um facto. O Nuno Paulino teve a felicidade de anilhar esta espécie pela primeira vez. Das recapturas salienta-se pela antiguidade a de Estrilda astrild. Processada pelo Nuno Paulino, mal sabíamos nós que também tinha sido anilhada por ele, neste mesmo local, mas em 16/09/2013. A recaptura de Turdus merula tambem é de mencionar pois foi anilhado em 12/10/2011, existindo registos de ter sido controlado ao longo destes anos.
Nesta área florestal com aproximadamente 2,5km de comprimento e uma largura máxima de 400m, existem alguns pontos que podem ser explorados quando à colocação de redes. Assim foram abertas novas linhas de anilhagem em outros dois locais, a que se deram os nomes de Choupal 2 (nascente) e Choupal 3 (poente), sabendo-se que a área onde foram efectuadas até agora sessões, ficou baptizada com o Choupal 1.
Neste novo local, recentemente alvo de cortes de vegetação arbustiva e alguma arbórea, a comida disponível para passeriformes praticamente não existe, já comprovado nos censos e observações que faço nesta área. Mas existe interesse em verificar a dinâmica dos passeriformes nesta área florestal ao longo do ano, nos diferentes locais e acompanhando o impacto da gestão florestal que vai sendo praticada. O local Choupal 3 vai ser a zona onde deponho mais expectativas em termos de diversidade de espécies e números de capturas, já que a zona está infestada de tintureira, silvas e sabugueiro, produtoras de bagas que são alvo de alimento de inúmeros passeriformes. Historicamente é também uma zona onde o volume de capturas e diversidade de espécies sempre foi mais elevada comparativamente com outros locais. A ver vamos. Hoje, na primeira sessão em Choupal 2, o regresso do Rui Machado, recentemente regressado da Alemanha, onde andou a espreitar para dentro das caixas-ninhos em Munique. Por isso a conversa abordou este assunto, as diferenças entre nós e eles, e depois mudamos para assuntos mais mundanos, como o estado da nossa Académica. E deu para o Rui anilhar pela primeira vez uma Trepadeira-azul Nos últimos anos tem sido cada vez mais frequente o registo de lesões na cloaca e abdómen em indivíduos do género Turdus. O caso da sessão realizada no passado dia 3 na Mata Nacional do Choupal não é inédito, mas mostra que cada vez mais são os indivíduos afectados, que no caso, estavam todos. Os doze indivíduos apresentavam estas lesões, independentemente da idade e sexo.
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March 2024
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