Por este ano, parece que já está tudo, pois recebi convocatória da Isabel para que amanhã entre ao serviço doméstico de preparar umas sobremesas para a orgia gastronómica habitual. De tarde tambem fui convocado para dar a minha colaboração na assadura do pequeno bácoro, mas perante a sapiência do assador, acho que a minha colaboração não vai mais além da habitual frase " Miguel, vai mais uma?" Mas nestes dias fez-se alguma coisa e assim do dia 26 dei um pulo atè ao Paul da Madriz com o Henrique Letra e os resultados foram estes: Como estava de serviço, mal acabou a sessão, fui para a Mata Nacional do Choupal. Chegado, aquecida no micro-ondas a sopinha de couve e o bacalhau da consoada, a colher ainda a meio caminho da boca quando recebo uma chamada no telemóvel de serviço: Eu - ICNF boa tarde Ele - SEPNA de Cantanhede. Temos aqui uma coruja para entregar no Choupal Eu - Eu farei a recepção da ave e assim que chegarem, avisem-me, para eu abrir a tranqueira. Eles - Já aqui estamos Eu - Vou ter com vocês para receber a ave Raios os partam, nem me deixam almoçar em paz Chegado à entrada, recebo a caixinha com um Mocho-galego lá dentro. Eu - Isto é que é um azar. A um sábado e vocês sem almoçar. Ele - Pois, estamos cheios de fome, os colegas todos já a almoçarem e nós aqui. Eu - Pois é, estas coisas só acontecem nestas alturas. A minha sopinha tambem está a arrefecer. Estou com o mesmo problema que vocês, Raios parta estes bicharocos. Isto é o quê? Ele - É uma coruja. Eu - HIIII que bicho tão feio. Ou é anão ou é bébé. Enquanto isto um dos elementos da equipa preenchia o auto de entrega. Eu - Ó companheiro, não quer que eu preencha isso, digitalizo e envio por mail. Fica mais rápido e vocês vão ao almoço mais depressa e eu tambem. Já agora, onde é que apanharam isto? Ele - Você tem razão, tome o papel e depois mande-nos isso. Estava preso uma rede que veda o campo de futebol-salão de S.Silvestre. Eu - Isso é já aqui perto. Foram os bombeiros que o tiraram ou foram vocês? Ele - Os bombeiros. A coruja não parece ter nada partido. E não tinha. São que nem um pero, boas cagadelas no fundo da caixa, hidratei-a um pouco, anilhei-a e lá foi ela de volta para os campos e eu de volta para o meu almoço Acabado o serviço, rapidinho para o dormitório de Motacilla alba. O Luis já tinha montado as redes, foi só esperar pelo momento de as retirar das redes. Entretanto lembrei-me que não tinha avisado em casa que ia aqui passar a noite. E nestas coisas de ultima hora e sem aviso prévio, mais vale telefonar a uma das filhas para dar recado à mãe do que telefonar directamente. Eu - Avisa que vou chegar tarde a casa. Ela - Nós estamos fora de casa tambem. Eu - Fixe, avisa que isto vai demorar, para a tua mãe não se preocupar comigo. Estou a ajudar o Luis que ele pediu muito, mas muito a minha ajuda. Diz isto à mãe. Que foi ele que pediu muito a minha ajuda. No dia seguinte, dia 27, apareceu por aqui o Rui Machado, que por agora anda a trabalhar por Lisboa e por isso arredado das sessões de anilhagem. Serviu para colocar a conversa em dia e também para dar continuidade à recolha de dados para o projecto que estou a desenvolver no Choupal A sessão de hoje, a ultima deste ano, foi feita no mesmo local da do dia 27, sem grandes diferenças Fica o registo de uma muda de parte das coberturas das secundárias de Phylloscopus collybita juvenil, facilmente detectável, pela razão de as coberturas primárias, alula e parte das coberturas das secundárias apresentarem barras de crescimento Até 2016
As aves selvagens tambem têm doenças e algumas delas bem fixes. Hoje apareceu esta preciosidade, que aparece mais frequentemente nas patas dos tentilhões - Fringilla coelebs. Penso que seja causada por um ácaro - Cnemidocoptes pilae - mas não tenho certeza. O Luís Ribeiro é que nunca tinha visto tal coisa e quando o começou a tirar da rede, logo me pediu para eu o substituir, pois não sabia que tal coisa podia aparecer a afectar a pata de uma ave. E de facto era impressionante. Esta ave foi libertada sem levar anilha, pois nestes casos, tenho sempre receio que o tarso tambem venha a ser afectado, apesar de a outra pata não mostrar sinais de estar afectada.
A outra ave com uma malformação de uma pata foi uma Felosinha - Phylloscopus collybita. Acabou por ser anilhada na outra pata e depois libertada. O resto da sessão correu de forma normal, com um excelente numero de recapturas, que é precisamente o que pretendo obter neste trabalho. Numa área florestal em que as árvores andam pelos 30 e 40m de altura, torna-se difícil atingir um numero razoável de aves capturadas, mesmo que as árvores e arbustos tenham bagas durante parte do ano, como agora tem o Lodão - Celtis australis, bem apreciadas por Turdus sp e por Sylvia atricapilla, entre outras aves florestais. Se estas preferem andar a pular de ramo em ramo, outras preferem esperar que as bagas sejam pisadas pelos utentes deste espaço florestal ou pelas viaturas que por aqui passam, para depois andarem pelas estradas a comer as sementes. Mas mesmos os Tentilhões que andam pelo chão, à aproximação das pessoas, sobem na vertical, fugindo de redes de captura situadas nas proximidades, como descobrimos em anos anteriores, especialmente na ajuda que dei (com o Luis) ao trabalho de campo para o mestrado da Joana.
Dada a minha permanência nesta mata do Choupal, resolvi então instalar dois grupos de comedouros, com vários tipos de comida, distantes cerca de 50m, que servem para satisfazer a minha curiosidade em relação à sua frequência pelas aves durante o ano, mas também para comparar condição corporal de algumas espécies que os frequentam comparativamente a indivíduos das mesmas espécies que não utilizam este tipo de alimentadores. Alem de que me permite recolher informação sobre a sobrevivência de Parus major, para o projecto que desenvolvo com caixas-ninho e ainda permite-me recolher amostras dos problemas que os Parus major registam nos tarsos e dedos. Depois de um período de habituação, esta foi a sessão n.º 1, numa série de sessões semanais que vou realizar durante o próximo ano de 2016. Não posso dizer que os resultados sejam maus, já que o numero de espécies e de indivíduos foi bastante razoável. Ontem começou-se de manhã no Choupal, depois ao anoitecer na Madriz e hoje de manhã no Taipal, para só na ultima ronda às redes, acontecer algo de diferente, logo na hora em que a maior parte do pessoal, já respondia à Marias que estavam em casa a ordenar a presença dos maridos, que "já estou mesmo a ir, daqui a bocadinho chego, é mesmo rapidinho daqui até aí". A minha não. Não telefona para essas coisas, mas andam aqui uns meninos bem ensinados. E treinados. A sessão no Choupal foi perfeitamente normal. Serve de treino para o trabalho que vou iniciar em Janeiro, altura em que darei novidades. No entanto parece que desapareceu a minha folha plastificada dos códigos das gorduras e músculo. Espero que o formando Luis de Santa Comba não tenha cola nas mãos. Madriz, ao anoitecer para capturar Anthus spinoletta. Um gajo esquece-se que apanha mais com redes de 2 bolsos do que com quatro. E depois já devia estar a utilizar o som do ficheiro 63 que está no CD 9 do A. Schulze, que é o mais parecido com o som que elas produzem quando chegam ao dormitório e deu em não apanhar nenhuma, apesar das dezenas que poisaram ao lado das redes. We will be back. Hoje no Taipal, os passeriformes desapareceram. Não os vimos sair do caniçal pela manhã, só Sturnus. O resto pouco ou nada e isso reflectiu-se nas capturas.
Foi preciso o Luis, já na fase de desmontagem, a aparecer todo sorridente, com aquele ar de "sem mim vocês não são ninguem, nem spinolettas apanham" com um saco a cantar um "cá está a raridade". E cá estão a fotos de um Phylloscopus collybita tristis. O grande inimigo de um observador de aves é o casamento. Daí que na fase de escolha convém acertar na cara-metade senão os binóculos ficam na prateleira e o guia utilizado estagna no da Fapas. Daí que quando fiz o teste a meio da lua-de-mel, persuadindo a Isabel que estava a gostar daquela boa vida de hotel e pequeno-almoço na cama e passeios por paisagens maravilhosas, mas que bom, mas mesmo bom, seria pegarmos na tenda e na mala do material de anilhagem e irmos os dois anilhar para Santo André juntamente com um pessoal porreiro que por lá andava e ela aceitando, sabia que tinha acertado em cheio. Programando para este dia participar em duas sessões organizadas pelo Luis, a habitual sessão quinzenal em Vale Soeiro e depois a captura de Motacilla alba num dormitório perto de Coimbra, sabia que a autorização teria de ser negociada: sim, corto as ervas que rodeiam o lago dos teus cágados, sim trato amanhã das gaiolas dos teus canários, sim dou uma ajuda no almoço. Mas desconfiada tratou de ver se era mesmo verdade que o dia estava reservado integralmente para a passarada. Estava e ainda deu uma ajuda a tirar as alvéolas das redes. A sessão começou em Vale Soeiro e nada haveria a reportar, não fosse a descontracção do meu novissímo formando a anilhar. Olhem para a pose. Espectáculo. Mal sabe que vai passar as próximas sessões a anilhar em pé. Na parte da tarde acompanhei o Luis na abertura da linha de captura no canavial que é utilizado como dormitório pelas alvéolas. Grandes acontecimentos já aqui decorreram desde que foi detectado este dormitório, esperamos que desta vez a coisa perdure. Para já estamos a utilizar o mesmo local e linhas utilizadas em 2012. Conseguimos capturar uma alvéola anilhada com anilha inglesa e anilhas coloridas, mas sem sinais que pertencesse à sub-espécie yarrellii.
Recapturadas algumas aves anilhadas em 2012 e 2013 e ainda o primeiro indivíduo a quem colocamos a anilha colorida que estamos a utilizar. Com satisfação, verificamos que estava tudo bem, tanto com as aves como com as anilhas. Uma sessão de demonstração para alunos da Escola Superior Agrária de Coimbra, que atravessando o Rio, vieram assistir como se faz, para que se faz e a que aves.
Por isso, depois de Regulus, Phylloscopus e outras miudezas, ao grito de um dos alunos "Está ali um grande", imaginei que devia ser algo mais para os lados de um melro do que outra coisa mais corpulenta. E quando retiro o Buteo buteo capturado e outro aluno, aponta o dedo e grita que "está ali outro grande" apeteceu-me mandá-lo gozar com o paizinho, não fosse interrompido com a visão de um segundo Buteo buteo para os lados da outra parte da linha de anilhagem. E a partir daí, mensagem para o Pedro, que de acordo com a namorada "saiu mais rápido que um foguete" ganhando um sorriso igual ao sortudo do meu formando Luís, que ainda deve estar a pensar na sorte que teve em anilhar uma espécie destas logo ao início da formação. Azar para o cabo-verdiano. Todos os meses dou aqui um pulo, quase sempre de tarde para observar aves. É um dos meus hotspot favoritos, sendo tão favorito que venho sempre sozinho. E volta e meia falava comigo mesmo, que devia valer a pena fazer aqui alguma anilhagem de aves, não só para detectar algumas espécies mais difíceis de observar, bem como para ter a noção da importância deste local para a presença de meia dúzia de espécies, que eu observava em grande quantidade.
E também porque adoro a Serra do Sicó. Hoje foi a primeira vez e que primeira vez. Foi uma sessão de intenso trabalho, com um numero impressionante de aves capturadas num ambiente florestal, que não pugna grandemente por quantidade e por vezes nem diversidade. Mas toda aquela zona, riquíssima em frutos e bagas, provocaram aquela avalanche de Sylvia atricapilla. Tanto o Paulo como o Pedro Lopes que me acompanharam nesta sessão, também ficaram com a mesma impressão de surpresa pelas potencialidades deste local. Alem de hotspot para a observação de aves, transformou-se de um dia para o outro num manancial de ideias, tendo em vista a monitorização e estudo nesta área. Está disponível uma galeria fotográfica desta sessão aqui |
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March 2024
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