Aproveitando a ultima sessão de anilhagem de aves "institucional", não podia deixar de prestar a mais que merecida homenagem a um grande companheiro e amigo, ao Jorge Cândido, trabalhador rural e agora baptizado de assistente operacional, que me acompanhou desde 1993 nas sessões de anilhagem que desenvolvi como funcionário do ICN, ICNB e ICNF. Trabalhando comigo nas ZPE do Paul da Madriz e Paul do Taipal entre 1993 e 2008, sempre disponível para acompanhar-me a qualquer hora e a qualquer momento, durante semanas, meses, anos. Por sempre confiar na sua opinião, colocava-lhe muitas vezes a mesma pergunta que coloquei como título, quando pretendia saber o que ele achava da alteração de locais por variados motivos, da linha que pensava abrir, de tantos assuntos que envolvia a captura e anilhagem de aves. Por isso, no final desta sessão, coloquei-lhe novamente a pergunta: "Jorge, o que é que tu achaste disto?" "Nááá, não vale grande coisa". Quem fala assim não é gago. Mais de vinte anos a trabalhar com quem sabe mais que muitos. Mas continuo a não conseguir descortinar porque nos chamavam "a sorte grande e a terminação" Então como ultima sessão de anilhagem feita enquanto funcionário do ICNF, o local escolhido foi uma encomenda da Câmara Municipal de Leiria feita em Julho ao ICNF e à qual só agora foi possivel organizá-la. Ora o que são as Salinas da Junqueira e o porquê de uma sessão de anilhagem? As Salinas da Junqueira são das únicas salinas interiores da região. Situam-se entre as povoações de Carreira e Sismaria, na União de Freguesias de Monte Redondo e Carreira (Leiria). As salinas resultam da ascensão de água salgada que passa por um diapiro de sal-gema e gesso que existe no local, aumentando assim a salinidade dos aquíferos. É uma salina recente, pelo que foram fundadas por José Rolo Júnior e funcionaram entre 1922 e 1980. Dessas salinas saiu toneladas de sal "Império", que era distribuído por todo o país. A salina começou a entrar em declínio em 1960 devido a uma diminuição da salinidade da água resultante de obras hidráulicas efectuadas no local. Mas mesmo da salina ter sido encerrada, devido ao substrato turfoso e ao solo movediço do local, a água nunca seca mesmo no Verão, proporcionando o crescimento de juncos (daí surge nome da salina) e também de caniçais e uma mata de amieiros e salgueiros. Hoje essa vegetação palustre apagou quase todos os vestígios de actividade humana no local, mas as salinas foram alvo de obras de recuperação e valorização em 2006 com trabalhos de valorização inseridos num programa INTERREG IIIB implementado em parceria com Espanha, França e, Inglaterra, destinado a salvaguardar áreas de salinas. No entanto, na actualidade o panorama é desolador, com uma área abandonada e todas as infra-estruturas em avançado estado de degradação. O porquê do pedido para a realização de uma sessão de anilhagem vem do facto de candidatura ao programa Interreg ter sido organizada ou apoiada pela empresa Mãe D'Água que tem nos seus funcionários alguns anilhadores, que organizaram em 2006 uma sessão de anilhagem, utilizando na época, isto de acordo com uma técnica da CML a quantidade impressionante de 60m de redes. A repetição de tal actividade entre outras iniciativas, na opinião transmitida, dirige-se a aumentar o conhecimento da área e a combater o estado de abandono deste local. Para esta sessão, foram abertas 4 linhas de anilhagem que possibilitaram a montagem de 222m de redes no total. Não posso dizer que existiu algo de diferente que estivesse à espera de capturar ou de observar em relação a outros locais similares, mas fica o registo da captura de um Phylloscopus trochilus, no que é um dos meus registos mais tardios desta espécie. Nesta sessão, praticamente a jogar em casa, tive o valioso auxílio do Henrique Letra.
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March 2024
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